segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Saúde Mental dos Pastores

Pastores são seres humanos como outros quaisquer e, portanto, sujeito aos mesmos problemas emocionais que as demais pessoas. Na verdade, é provável que os pastores, devido às pressões que os atingem no desempenho de seu oficio, apresentem mais transtornos psicológicos do que a média da população. Isso ficou evidenciado na pesquisa que o Dr. Francisco Lotufo Neto, médico psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, realizou há alguns anos: 207 ministros religiosos de diversas denominações responderam a um questionário, e 40 dentre eles, escolhidos aleatoriamente, foram entrevistados pessoalmente pelo pesquisador. Os resultados indicaram que 47% dos pastores sofriam ou haviam sofrido de algum transtorno mental, contra a média de 31% encontrada na população em geral.

Mais recentemente, um de meus alunos de pós-graduação em aconselhamento, o pastor Paulo Ramos dos Santos, da Assembléia de Deus de Vila Nova Gerty, fez um excelente trabalho reunindo dados de quatro autores que estudaram os problemas mentais de pastores. * Ele cita as conclusões da psicóloga Roseli M. Kühnrich de Oliveira sobre os transtornos mais comuns dos pastores: cansaço, desilusão, desânimo, irritabilidade constante, e até mesmo constatação de síndrome de burnout (exaustão ligada à função ocupacional). Para o Dr. Lotufo Neto, o problema que apareceu com mais freqüência foi a depressão, convindo observar que este autor focalizou apenas transtornos de ordem psiquiátrica enquanto que Kühnrich de Oliveira estendeu sua tenção para o sofrimento psicológico em geral.

De acordo com tese elaborada pelo pastor Jetro Ferreia da silva, baseada em respostas de 627 pastores de sete denominações evangélicas, os fatores que mais contribuem para o desgaste psicológico dos ministros são:

 Contatos excessivos com pessoas necessitadas.
 Conflitos de papeis e esforços para agradar a congregação.
 Conflitos da personalidade: perfeccionismo, instropecção, isolamentos, incapacidade de formar relacionamentos íntimos interpessoais.
 Dúvidas sobre o chamado ministerial.
 Sentimentos de haver sido abandonado por Deus quando os resultados de seus esforços parecem falhar.
 Discrepâncias entre as expectativas pessoais, familiares e congregacionais.
 Desequilíbrio entre as demandas do ministério e o tempo para cada tarefa.
 Sensação de estar lutando sozinho (complexo de abandono).
 Sensação de não estar vivendo à altura das próprias expectativas e das expectativas impostas pelos membros.
 Cada membro da igreja é ao mesmo tempo cliente e chefe do pastor.
 O pastor entende que Deus espera muito dele.
 O pastor espera muito de si mesmo.
 A igreja espera muito do pastor.

Um ponto a ressaltar é que, dentre esses pastores que revelaram estar atravessando ou ter atravessado por esses problemas, muito poucos foram os que procuraram ajuda. Eles tendem a esconder a situação por medos diversos, entre os quais: de serem considerados psicologicamente fracos, ou de que os julguem como tendo pouca fé, ou ainda de que seus problemas, relatados a alguém em particular, acabem sendo conhecidos por muita gente. Pode acontecer também de que o pastor não conta com ninguém com quem tenha suficiente intimidade e/ou confiança para abrir-se, ou ainda pode ser que, mal informado, acredite que psicoterapia seja coisa para loucos.

Tendo em vista o lado humanitário da questão, bem como a importância do papel do pastor no contexto da igreja, parece mais do que oportuno que se coloquem à disposição dos ministros recursos aos quais possa recorrer sem constrangimentos sempre que seu bem estar emocional corre perigo.
*Quem quiser uma abordagem mais extensa desses pontos, pode solicitar ao Pr. Paulo Ramos dos Santos que lhe envie sua monografia (e-mail: pauloramos.santos@gmail.com)

Ver. Dr. Zenon Lotufo Jr., psicoterapeuta , pastor jubilado da Igreja Presbiteriana Independente e membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos. E-mail: zenonjr@uol.com.br

Fonte: Revista do Conselho/ Agosto/Setembro - 2009


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